segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Estudo sobre gravidez em adolescentes

*Por Alex Sander Alcântara*

*Agência FAPESP* – Um novo estudo comparativo destacou grave disparidade
entre o atendimento oferecido a mães adolescentes nos sistemas público e
privado do município de Ribeirão Preto (SP).

As jovens usuárias do sistema público realizam menos consultas pré-natal,
têm baixa escolaridade, maior número de gestações e parto normal com
freqüência. De outro lado, as que foram atendidas no serviço privado
apresentaram maior escolaridade, mais acesso às consultas pré-natais e um
número alarmante de cesarianas, identificado na pesquisa como um problema de
saúde pública.

A pesquisa *Gravidez na adolescência: estudo comparativo das usuárias das
maternidades públicas e privadas*, publicada na *Revista Latino-Americana de
Enfermagem*, teve como objetivo identificar o perfil das mães adolescentes
atendidas nos dois sistemas de saúde, diagnosticando desigualdades sociais
no acesso aos serviços, na educação formal e na perpetuação do ciclo
pobreza-gravidez precoce.

De acordo com Ana Cyntia Paulin Baraldi, da Escola de Enfermagem da USP de
Ribeirão Preto, coordenadora do grupo que fez o estudo, "o diagnóstico é
fundamental para a implantação de políticas públicas multidimensionais que
atendam às necessidades dessas adolescentes".

"As estratégias incluem a preparação escolar desses jovens no ensino
fundamental, capacitação dos serviços de saúde, planejamento familiar, saúde
sexual, direitos reprodutivos e treinamento de equipes especialmente para as
particularidades desse grupo", disse a enfermeira obstetra à *Agência FAPESP
*.

A pesquisa foi realizada com base no número de nascidos vivos, em três
maternidades públicas e três privadas, no município de Ribeirão Preto. Na
amostra, foram selecionadas 5.286 adolescentes entre 10 e 19 anos.
Analisou-se ainda o tipo de parto, grau de instrução, o número de consultas
pré-natal e o de partos anteriores, no período de 2000 a 2002.

Os dados registram um número de mães adolescentes oito vezes maior nas
maternidades do sistema público. Foram 618 nascimentos (11,7%) em hospitais
privados contra 4.668 (88,3%) em hospitais públicos. Dessa amostra,
destaca-se um percentual três vezes mais alto de nascimentos entre mães
adolescentes usuárias do SUS, entre 10 e 14 anos de idade.

Na relação idade materna e grau de instrução, a pesquisa detectou outra
desigualdade. Entre as usuárias do serviço privado entre 15 e 19 anos a
escolaridade esperada, de oito ou mais anos de estudo, foi correspondente à
idade em 70,33% dos casos. Já entre as adolescentes atendidas pelo SUS,
apenas 44,55% apresentaram escolaridade compatível com a faixa etária.

O abandono escolar relacionado à gravidez precoce compromete, na maioria dos
casos, as perspectivas de futuro para as jovens mães e seus bebês. O estudo
revela que a adolescente, no meio de seu processo de capacitação, muitas
vezes sofre pressões sociais e psicológicas de colegas, pais e diretores de
escolas, o que resulta em evasão, desqualificação e dificuldade de inserção
no mercado de trabalho.

"O que se pode constatar é a perpetuação do ciclo de miséria, uma vez que a
pobreza e a exclusão podem ser vistas tanto como causa como conseqüência da
gravidez precoce", disse Ana Cyntia.

O perfil das adolescentes contrasta também em relação ao número de consultas
pré-natal. O Ministério da Saúde recomenda um mínimo de seis exames durante
a gestação, meta essencial para a redução dos índices de mortalidade materna
e perinatal verificados no Brasil.

No serviço público, 54,46% de mães adolescentes, entre 15 e 19 anos,
atingiram essa meta, contra 89,34% das atendidas nas maternidades privadas.
Entre as adolescentes de 10 a 14 anos, o percentual foi de 48,93%, no
público, e de 87,5%, respectivamente.

*Excesso de cesarianas*

O enorme número de partos cesarianos entre as jovens mães atendidas em
maternidades privadas chamou a atenção dos pesquisadores. O índice de partos
desta natureza tolerados pelo Ministério da Saúde é de 15% a 20%, e a alta
taxa de cesarianas no Brasil é hoje um problema de saúde pública, pois gera
mais riscos de mortalidade de mães e bebês.

Foram registrados 83,12% de cesáreas contra 16,68% de partos normais em
adolescentes com nível socioeconômico privilegiado, atendidas pelo setor
privado por meio de planos de saúde. Inversamente proporcional foram os
números em maternidades públicas, onde 73,10% de partos normais prevaleceram
sobre 26,87% de cesarianas.

Para Ana, essa desproporção está relacionada à inadequada assistência
médica. "Antes, havia a crença de que o corpo da adolescente não estava
biologicamente preparado para o parto normal, crença que já caiu por terra.
O que ocorre é que na maioria das vezes a cesariana é decidida dentro dos
hospitais privados, que nem sempre prestam cobertura obstetrícia pautada nos
princípios de humanização e incentivo ao parto fisiológico, como prega o
Ministério da Saúde."

Tais princípios de humanização no atendimento a gestantes devem ser
cumpridos tanto no serviço público como no privado. "Um dos papéis do
SUS [*Sistema
Único de Saúde*] é regular e fiscalizar o cumprimento desses princípios nos
hospitais particulares, inclusive investigando, se necessário", disse a
pesquisadora.

Para ler o artigo *Gravidez na adolescência: estudo comparativo das usuárias
das maternidades públicas e privadas*, de Ana Cyntia Baraldi e outros,
disponível na biblioteca eletrônica SciELO (FAPESP/Bireme) *clique
aqui<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-11692007000700014&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt>

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