segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Fw: estudo da Fiocruz

Muitas vezes a gente tem a impressão hoje que quase toda mulher pensa em cesárea tal a pressão cultural já instalada, mas isso não é verdade.
beijos
Katia Barga e Sarah PNH 1a6m
 
 
http://www.fiocruz.br/ccs/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=1539&sid=9

Catarina Chagas <catarina@fiocruz.br>

"O Brasil é campeão do mundo em partos cesarianos", afirma a epidemiologista
Silvana Granado Nogueira da Gama, da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp)
da Fiocruz. Foi essa a constatação que motivou o trabalho de seu grupo de
estudos na investigação dos fatores médicos, econômicos e culturais que
levam às altas taxas de partos operatórios no país, sobretudo em serviços
privados. O estudo foi composto de entrevistas e consultas aos prontuários
de 437 grávidas atendidas em duas unidades do sistema de saúde complementar
do Estado do Rio de Janeiro.

Para selecionar as instituições participantes, o critério foi, além do
grande volume de partos, a clientela heterogênea das unidades, que atendem
mulheres de diferentes classes sociais, faixas etárias e níveis de
escolaridade. As entrevistas foram realizadas em 2006 e 2007 e abordaram
todo o período de gestação das entrevistadas, questionando-as sobre sua
preferência pelos tipos de parto no início e no final da gravidez, ambos
posteriormente comparados ao tipo de parto efetivamente realizado.

Em relatório encaminhado à Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), a
equipe da Fiocruz, que trabalhou em parceria com a Universidade Federal
Fluminense (UFF) e a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro,
relatou que, embora 70% das gestantes não tenham manifestado preferência
pela cesariana no início da gravidez, 90% delas tiveram esse tipo de parto.
"Essas taxas não parecem se relacionar a fatores exclusivamente médicos, mas
também a questões socioeconômicas e culturais", explica Silvana. "Existe uma
crença, principalmente nos níveis socioeconômicos mais elevados, de que a
qualidade do atendimento obstétrico está associada à tecnologia utilizada no
parto operatório".

Segundo a pesquisa, entre os motivos para a opção pela cesariana estão o
medo de sentir dor no parto normal – apesar da anestesia peridural e outros
métodos não farmacológicos –, a preferência do parceiro, o histórico
familiar, a experiência de partos anteriores e o desejo de ligar as trompas.
Ao final da gestação, a porcentagem de mulheres que preferiam parto cesáreo
dobrou em relação às preferências no estágio inicial da gravidez, atingindo
70% das entrevistadas. A justificativa para a mudança incluiu principalmente
complicações como hipertensão, circular de cordão e alto peso do feto.

"Mesmo nesses casos, nem sempre a cesárea é indicada", adverte a
pesquisadora. Para detectar a real necessidade de parto operatório, os
pesquisadores contaram com a avaliação independente de dois obstetras, que,
caso divergissem, discutiam o caso para chegar a um consenso. A análise
apontou que 91,8% das indicações de cesáreas foram inadequadas, de acordo
com as observações no prontuário das pacientes.

Os resultados indicam que, na maioria das vezes, os médicos não buscam
técnicas alternativas como fórceps e vácuo, cujo uso não foi relatado no
estudo. "No mundo inteiro essas técnicas são utilizadas durante partos
vaginais complicados e a ausência de parto instrumental no grupo estudado
sugere uma opção dos profissionais da iniciativa privada pela cesariana",
interpreta a epidemiologista. "Por outro lado, o grande número de mulheres
que buscam a cesariana para obter a laqueadura marca a necessidade de
ampliar o acesso a outros métodos contraceptivos e à informação sobre outras
formas desse procedimento".

Outro dado observado foi o elevado índice de internações precoces das
gestantes, o que ocasiona uma maior taxa de intervenções médicas. Em muitos
casos, a cesariana foi feita sem tentativa de parto normal e apenas 8% das
mulheres submetidas ao parto operatório haviam entrado em trabalho de parto.
"Com a banalização da cesariana, as mulheres não estranham mais que os
médicos indiquem tantas cirurgias e acabam abrindo mão de seu desejo inicial
por um parto normal e concordando com a realização da mesma", comenta.

A pesquisadora alerta ainda que a literatura médica assinala a possibilidade
de complicações maternas e neonatais associadas à realização de cesarianas
sem indicações obstétricas reais. A conscientização e maior informação das
gestantes é estratégica para a reversão desse quadro e esta é a próximo
etapa de pesquisa da equipe da Ensp, que iniciará um trabalho de incentivo
ao parto normal em Belo Horizonte.

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