domingo, 8 de maio de 2011

Pesquisa aponta que bebês de cesariana têm 58% de chance de obesidade

Departamento de Pediatria compilou dados de 2.057 pessoas com idades entre 22 e 24 anos

Jucimara de Pauda
Pesquisa feita no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, com 2.057 pessoas com idades entre 22 e 24 anos, mostrou que bebês que nascem de cesariana têm 58% a mais de chances de ficarem obesos na idade adulta. Este é o primeiro estudo feito em uma base populacional para mostrar a ligação entre os tipos de parto e a obesidade.
O estudo foi feito com as pessoas que fazem parte de um banco de dados do HC, criado entre os anos de 1978 e 1979, pela equipe do professor Marco Antônio Barbieri, do Departamento de Pediatria e Puericultura da Faculdade de Medicina (FMRP).
Na época, todos os bebês que nasceram na cidade e as mães deles entraram na pesquisa.
"Nós fomos atrás desse bebê que agora está adulto e levantamos a seguinte hipótese: será que nascer por cesariana ou por parto normal pode afetar o IMC (Índice de Massa Corpórea). E nossa pesquisa mostrou que existe esta relação", afirmou Barbieri.
A literatura científica mostra que a microbiota, isto é, as bactérias do intestino, da pessoa que nasce de parto normal é diferente da do indivíduo que nasce de cesariana. Os estudos também mostram que as diferenças no início da composição da microbiota fecal em crianças podem significar excesso de peso.
"Uma das hipóteses para a obesidade é que a microbiota foi modificada em função do parto cesárea", disse Barbieri.
No entanto, uma das limitações da pesquisa é não ter mensurado a amamentação e o peso das mães.
"O aleitamento materno fornece substâncias para o desenvolvimento infantil do intestino. Nós não temos os dados de amamentação durante a infância, e isso é uma limitação do nosso estudo", disse Helena Aiako Goldani, responsável pela pesquisa.
Para Barbieri, as cesarianas devem ser feitas apenas quando for essencial para o bem-estar da criança e da mãe.
"Sabemos que a cesariana tem sido uma arma terapêutica para medicina salvar bebês que poderiam morrer dentro do útero da mãe. Mas temos hospitais que fazem 92% de cesarianas, muitas sem necessidade. O ideal é fazer a cesariana depois de uma ou duas horas que a mãe entrou em trabalho de parto".
Entre 1978 e 1979, a equipe do professor Marco Antonio Barbieri resolveu fazer uma pesquisa com todas as crianças que nasciam nos hospitais de Ribeirão Preto. Na época, foram pesquisados 6.973 recém-nascidos.
"Queríamos estudar a saúde perinatal, desde o nascimento, e seguir o crescimento da criança", diz Barbieri.  Ele conta que os integrantes da equipe iam todos os dias aos hospitais da cidade, entrevistavam as mães e avaliavam os bebês. A visita acontecia inclusive nos fins de semana e feriados.
Na segunda fase do estudo, as crianças já estavam com 8 anos de idade e foram localizados 2.861 bebês que participaram da primeira fase. Quando eles completaram 18 anos, foram avaliados novamente, e os dados foram comparados com os dados iniciais. Ao completar 24 anos, nova batelada de exames.
"No total, o grupo de 1978 passou por mais de 12 mil avaliações, além dos estudos de mortalidade infantil e da mortalidade até 20 anos", diz o professor.
Esse banco de dados desencadeou uma série de pesquisas inéditas no mundo, que têm atraído a comunidade científica.
"Em um dos estudos, verificamos que os bebês que nasceram de mães que fumavam tinham um peso menor. Esta pesquisa atraiu os olhares do mundo para nossa pesquisa porque havia pouca gente que estudava o assunto".
Ao longo do período, o uso do cigarro caiu ao longo desses 32 anos. Em 78, eram 27%, que caíram para 20% em 1994. Dados preliminares já indicam que o  total está abaixo de 15%.
Outro dado levantado pelo estudo é o aumento do nascimento de bebês prematuros.
"Atualmente, as crianças estão sendo retiradas prematuramente do útero da mãe, e com grande chance de aumentar a sua sobrevida. Agora precisamos conhecer o desenvolvimento delas, as consequências dessa prematuridade. Esse é um dos objetivos da pesquisa", finaliza.

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