quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Por que bater não educa e ainda torna o seu filho agressivo, agora e no futuro

Por que bater não educa e ainda torna o seu filho agressivo, agora e no futuro

Estudo brasileiro reforça o quanto a palmada só gera agressividade e infelicidade nas crianças

Ana Paula Pontes

 Shutterstock
Bater, gritar, chacoalhar a criança na hora de um ataque de birra. Com certeza, você já presenciou uma cena dessa em algum momento. O que você achou? Agressivo, né? Pois bem. Infelizmente, essas "técnicas" para mudar o comportamento de um filho continuam firmes e fortes no dia a dia de algumas famílias. E comentários do tipo "não concordo em espancar, só dou um tapinha na mão" são fáceis quando o assunto palmada é foco de alguma nova reportagem. Faz parte desta lista o "apanhei e não sou revoltado", e por aí vai. Geralmente, são essas pessoas que apanharam que agora estão batendo...
É exatamente esse ato-reflexo da agressividade a conclusão de uma pesquisa realizada pelo Núcleo de Estudos da Violência (NEV), da Universidade de São Paulo (USP), divulgada recentemente. A análise mostrou que as crianças que apanharam na infância têm maior probabilidade de adotar a violência em situações do cotidiano quando adultas. 

"A criança entende que a violência é uma opção legítima e vai usá-la quando tiver um conflito com colegas da escola, por exemplo. Mas, ao agredir, ela também pode sofrer agressão e se tornar vítima. E isso cresce de forma exponencial ao longo da vida", disse em nota a psicóloga Nancy Cardia, vice-coordenadora do NEV. Sim, as crianças vão repetir o que aprenderam em casa - hoje e no futuro, seja com com amigos, irmãos, companheiros, parentes, na faculdade, no trabalho. 

A pesquisa - realizada em 11 capitais brasileiras - revelou ainda que mais de 70% dos 4.025 entrevistados apanharam quando crianças. Para 20% deles, a punição física ocorreu de forma regular – uma vez por semana ou mais. E a palmada era apenas coadjuvante nesses casos. Castigos com vara, cinto, pedaço de pau e outros objetos capazes de provocar danos graves foram mais frequentes do que os tapas, principalmente entre aqueles que disseram apanhar quase todos os dias. 
Aqueles que apanhavam muito (os 20%) foram os que mais escolheram a opção "bater muito" em seus filhos caso esses apresentassem mau comportamento. Eles também esperavam que os filhos respondessem com violência caso sofressem alguma agressão física na escola.
Um estudo anterior, realizado por cientistas da Universidade de Manitoba, e publicado em fevereiro deste ano no Canadian Medical Association Journal (Revista da Associação Médica Canadense) revisou 20 anos de pesquisas sobre o assunto e o resultado mostrou que nenhuma delas sugeriu qualquer benefício da agressão como forma de educar. Pelo contrário: assim como os pesquisadores brasileiros, os canadenses também descobriram que as crianças que apanharam na infância se tornam mais agressivas.

(LEIA TAMBÉM: 10 RESPOSTAS SOBRE PALMADA)

Se você já apanhou, também deve se lembrar bem do sentimento que tinha naquela hora. "A criança que sofre agressão se sente rejeitada pelos pais, e isso contribui para sua baixa autoestima, transtornos de ansiedade, depressão, estresse", afirma Gustavo Teixeira, psiquiatra e autor dos livros Manual Antibullying e Desatentos e Hiperativos(ambos da Ed. BestSeller). Além disso, a baixa autoestima de uma criança a torna alvo de bullying como também facilita que ela se torne agressora. 

Mesmo com tantas provas de que ser agressivo com o filho só traz resultados negativos isso ainda é tão forte na sociedade. Por quê? "Por resistência, negação do problema, desinteresse em mudar, pressa em uma solução rápida, com péssimos resultados depois", reforça Teixeira. Não tem segredo. Para educar uma criança, é preciso paciência, persistência, tempo e carinho. "Eu continuo sempre acreditando que uma hora isso vai mudar", diz Teixeira.

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