quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Epidemia de cesáreas diminui realização de partos naturais

Epidemia de cesáreas diminui realização de partos naturais
Vanessa Jacinto - Estado de Minas
 
JACKSON ROMANELLI/EM/D.A PRESS
Geisa Cordeiro está no oitavo mês de gestação e já se decidiu pelo parto normal.

A estudante Geisa Cordeiro, de 19 anos, não vê a hora de pegar no colo a filha que está prestes a nascer. No oitavo mês de gestação, ela já se decidiu pelo parto normal. "A gente se recupera mais rápido. É melhor para a mãe e para o bebê. Às vezes, penso na dor, mas logo me tranquilizo. Se a minha mãe deu conta, por que eu não daria?", pergunta.

Nem todas as mulheres, contudo, confiam no próprio poder. Muitas delas, por temerem um parto sofrido, comprometer o períneo ou por puro desconforto com o imprevisto de deixar agir a natureza, optam por dar aos filhos um nascimento cirúrgico.

Grande parte dos médicos, por outro lado, não se dispõe a desfazer os mitos. Ao contrário, a agenda sempre cheia faz com que acabem indicando a cesárea. Pode ser num trabalho de parto que tende a se prolongar demais ou, mais convenientemente ainda, acabam programando uma cirurgia eletiva, sob as mais diversas alegações que justificam o impedimento da espera.

Metade dos partos de primeiros filhos são cesáreas com hora marcada, sem que as mães entrem em trabalho de parto e sem levar em conta a fisiologia feminina, como avalia Sônia Lansky, coordenadora da Comissão Perinatal e do Comitê de Óbitos da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte.

Ela, que é uma defensora do parto natural e humanizado, afirma que o fator econômico também pesa na decisão. Para fazer uma cesárea, que dura em média uma hora, os profissionais recebem o mesmo valor pago para o parto normal, cujo acompanhamento pode se estender por longas horas.

Assim, embora a Organização Mundial de Saúde (OMS) preconize em 15% o índice aceitável de partos cirúrgicos, a realidade brasileira revela total inversão no modelo de assistência ao nascimento. Figuramos na lista dos campeões em realização de cesáreas, com índices médios de 80% nas maternidades privadas, podendo superar, em algumas, os 90%.

Uma verdadeira banalização praticada com a falsa pretensão de oferecer à mãe e ao bebê maior conforto e segurança. "Chegamos ao fundo do poço. As mulheres estão sofrendo cirurgias de grande porte desnecessariamente", alerta Sônia.

O risco de morte em uma cesárea é superior ao do parto normal e muito mais perigoso tanto para a mãe quanto para o bebê. Para a criança, a situação fica mais crítica justamente no caso de cesárea eletiva (realizada sem que a mãe entre em trabalho de parto).

PESQUISA

Segundo Sônia, estudo recente da epidemiologia dos óbitos de recém-nascidos em BH revelou que eles estão sendo tirados prematuramente. Quando não morrem, permanecem internados nas UTIs dos hospitais, com sérias dificuldades respiratórias, baixo peso, icterícia, sujeitos a infecções, afastados do contato com as mães e do aleitamento materno.

"Essa história de que se pode retirar o bebê com 37 semanas não procede. Cada dia a mais no útero é fundamental para garantir a saúde da criança. Do ponto de vista médico, o bebê só está pronto para nascer quando a mãe entra em trabalho de parto e é nessa hora que se deve decidir qual o procedimento mais adequado", avisa.

Felizmente, a vulgarização das cesáreas começa a incomodar também a classe médica. Nos dois últimos dias, especialistas discutiram, durante a realização, em Belo Horizonte, do 1º Seminário de Assistência ao Parto, como a assistência obstétrica ocorre no Brasil. O evento foi promovido pela Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia de Minas Gerais (Sogimig) e a ideia é sensibilizar para os benefícios do parto normal alertando, também, para a necessidade de melhor capacitação dos profissionais e para a indicação restrita e consciente do parto cirúrgico.

 

http://www.uai.com.br/UAI/html/sessao_8/2009/08/30/em_noticia_interna,id_sessao=8&id_noticia=125234/em_noticia_interna.shtml

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