quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Parto cesáreo eletivo no Brasil: uma análise dos fatores associados com base


Parto cesáreo eletivo no Brasil: uma análise dos fatores associados com base
na Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde (PNDS), 2006

O presente trabalho tem como objetivo analisar os fatores associados à marcação antecipada
de parto cesáreo pelas mulheres brasileiras, com base nos dados da Pesquisa Nacional de
Demografia e Saúde (PNDS) 2006. Para tanto, utilizou-se o modelo de regressão logística
binária múltipla. As variáveis o local de realização do pré-natal e do parto, a parturição, os
meses de duração da gravidez e a complicação durante a gravidez foram estatisticamente
significativas para explicar a marcação antecipada de parto cesáreo. A chance de ocorrer parto
cesáreo eletivo é menor entre aquelas mulheres que realizaram parto (RC=0,36 p < 0,001) e
pré-natal (RC=0,56 p < 0,001) em serviços de saúde do SUS. Para reverter o quadro de taxas
abusivas de cesárea, indica-se a necessidade de mudanças na assistência pré-natal, preparando
a mãe para o trabalho de parto o que implica o resgate da profissão dos profissionais de saúde
ligados a essa área.
[ ]

O Brasil recentemente deixou de ser líder mundial da prática de cesáreas, dado a
medida tomada pelo Ministério da Saúde de fixar o limite de 40% desta via de parto realizada
pelo SUS, deixando de pagar os custos com esse procedimento quando o limite é excedido.
Desse modo, o país passou a ocupar o segundo lugar na taxa de cesáreas, com 39,7% dentre a
totalidade de partos em 2002, ficando atrás apenas do Chile (KAC et al, 2007).

De acordo com a Agência Nacional de Saúde Suplementar, no ano de 2004, 87,9% dos
nascimentos no Brasil ocorreram no Sistema Único de Saúde (SUS) e 12,1% no setor de
saúde suplementar, e o parto cesáreo correspondeu a 79,70% dos nascimentos desse último
tipo de serviço. O SUS registrou uma taxa de 27,53% de partos cesáreos neste mesmo período
[ ]

Cabe ressaltar que o parto cesáreo tem maior indicação clínica nos casos em que a mãe
é de idade avançada, portadora de HIV, de Hipertensão Arterial Sistêmica/Doença
Hipertensiva Específica da Gravidez (HAS/DHEG), de diabetes, desproporção céfalo-pélvica,
distócea de apresentação, gestação múltipla, sofrimento fetal, dentre outras complicações
(QUEIROZ et al, 2005; CARNIEL, ZANOLLI & MORCILLO, 2007; LOUIS et al, 2007;
FARR et al, 2007; SMITH et al, 2008). Além disso, as cesáreas sem indicação médica estão
associadas a um maior risco para a saúde materna e infantil (SAKAE, FREITAS & D´ORSI,
2009). Estudos mostram que o parto cesáreo pode representar para a parturiente maiores
riscos de intercorrências como hemorragias, infecções puerperais, embolia pulmonar,
complicações anestésicas e mortalidade materna (RAMOS et al, 2003; VILLAR et al, 2006;
KILSZTAJN et al, 2007a; LIU et al, 2007) . Para o recém-nascido, há maiores probabilidades
do parto cesáreo resultar em problemas respiratórios, icterícia fisiológica, prematuridade
iatrogênica, anóxia, mortalidade neonatal, dentre outros (FUCHS & WAPNER, 2006; LEE &
D'ALTON, 2008; MACDORMAN et al, 2008). O aleitamento materno também pode ser
influenciado pela ruptura do vínculo entre mãe e filho (CARNIEL, ZANOLLI &
MORCILLO, 2007).

Diante disso, nota-se que as razões para esta alta prevalência de parto cesáreo parecem
não estar ligadas somente ao aumento do risco obstétrico, mas sim, aos fatores
socioeconômicos e culturais, destacando-se o controverso fenômeno da "cultura da cesariana"
(DIAS et al, 2008). Para Dias et al (2008), independente do nível socioeconômico, a demanda
por cesárea parece se basear na crença de que a qualidade do atendimento obstétrico está
fortemente associada à tecnologia utilizada no parto operatório

Em estudo realizado por Tamim et al (2007) verificou-se que além da idade materna e
da gestação múltipla, outros fatores como ocupação paterna, sexo do obstetra, ter seguro
privado de saúde e dia da semana foram positivamente associados com a alta taxa de parto
cesárea.
Contradizendo ao dito popular - "Uma vez cesárea sempre cesárea", Ceccatti et al
(2005) investigaram os fatores associados à prática do parto normal, após parto cesáreo. Os
resultados desse estudo mostram que os principais determinantes do segundo parto da mulher
ser normal são condições socioeconômicas desfavorecidas, ou seja, as mulheres que realizam
parto vaginal após uma cesárea prévia apresentam renda familiar mensal
abaixo de 5 vezes o salário mínimo brasileiro, elas confiam na assistência prestada no SUS,
são em geral muito jovens e a primeira cesárea foi indicada devido à distócea de apresentação
ou à gravidez gemelar. Dentre as parturientes que realizaram seu segundo parto cesáreo,
somente 11% tinham iniciado o trabalho de parto.
Com relação à preferência por tipo de parto, Pang et al (2009

Assim, acredita-se que para reverter esse quadro de taxas abusivas de cesárea, são
necessárias mudanças na assistência pré-natal, preparando a mãe para o trabalho de parto e
parto. É imprescindível, que os profissionais de saúde envolvidos na assistência às
parturientes forneçam a informação necessária sobre os benefícios do parto normal e
compreendam suas preferências e façam o possível para atendê-las, considerando sempre o
compromisso com a ética médica. Este aspecto está intimamente relacionado com o resgate
da profissão de parteira, ao treinamento dos médicos e outros profissionais de saúde, como a
enfermeira obstetra e a substituição da assistência individual por uma que envolva a equipe,
rompendo de vez com a cultura médica da cesárea por conveniência, e, não, por necessidade.
É importante também a sensibilização dos profissionais da saúde sobre o exercício dos
direitos reprodutivos das mulheres.
[ ]
na integra em:
http://www.alapop.org/2009/Docs/Pinto_ST2.pdf

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