segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Cereal para criança tem sódio e açúcar demais, diz pesquisa

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/inde01102008.htm


Pro Teste analisou 18 produtos com maior presença no mercado de alimentos
infantis

Um outro problema apontado é a falta de adequação da tabela nutricional à
faixa etária a que o produto se destina

CLÁUDIA COLLUCCI
BRUNA SANIELE
DA REPORTAGEM LOCAL

Teste com 18 cereais matinais de maior presença no mercado de alimentos
infantis mostra que a maioria dos produtos contêm açúcar e sódio em excesso
e poucas fibras. A avaliação foi feita pela Pro Teste (Associação Brasileira
de Defesa do Consumidor).
Uma porção de 30 gramas de sucrilhos de chocolate da Kellogg's (uma
tigelinha), por exemplo, tem 205 mg de sódio.
Uma criança de um a três anos deve consumir, por dia, no máximo 225 mg desse
mineral -ou seja, uma única porção equivale a 90% das suas necessidades
diárias. Para um adulto, essa quantidade de sódio representa 10% das
necessidades.
Na avaliação da Pro Teste, todos os cereais matinais também têm açúcar em
excesso -de 5,5 a 13 gramas por porção.
De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), o ideal é que uma
criança de até três anos consuma, no máximo, 14 gramas por dia de açúcar.
Uma porção do sucrilho sabor banana, por exemplo, tem quase toda a
quantidade diária de açúcar recomendada para uma criança nessa faixa etária.
Presente no sal e base para conservantes, o sódio em excesso está ligado à
hipertensão arterial e a problemas renais. Já muito açúcar tem relação com
obesidade e diabetes tipo 2.

Fibras
Dos cereais analisados, dez marcas apresentaram menos de três gramas de
fibras para cada 100 gramas do produto -três gramas é a quantidade mínima
para um alimento ser considerado fonte de fibra. Os cereais Corn Flakes
(todos os sabores) e Chokos tiveram o pior desempenho no teste: possuem
menos de 0,01% de fibra, ou seja, praticamente nada.
Um outro problema apontado pela Pro Teste -que envolve os cereais analisados
e a maior parte de alimentos consumidos pelo público infantil- é a falta de
adequação da tabela nutricional à faixa etária a que o produto se destina.
A pesquisadora de alimentos da Pro Teste, Fernanda Ribeiro, explica que o
percentual diário recomendado de cada nutriente é calculado para uma dieta
de 2.000 quilocalorias, que corresponde à necessidade calórica de um adulto,
não de uma criança.
A dieta de uma criança de um a três anos, por exemplo, deve ser de 1.050
calorias, segundo a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). De
quatro a seis anos, esse valor sobe para 1.450 e, de sete a dez anos, para
1.750. "O ideal seria que essas informações fossem apresentadas de acordo
com a faixa etária. Seria muito mais útil aos pais", avalia a pesquisadora.

"Isopor food"
O nutrólogo e cardiologista Daniel Magnoni orienta que as pessoas escolham o
cereal matinal pelo menor índice de sódio e açúcar e maior presença de
fibras solúveis. "O ideal é misturar com um iogurte light, enriquecido com
cálcio, e muita fruta", diz ele.
Para Magnoni, os pais não devem se impressionar pelas vitaminas e sais
minerais contidos no rótulo dos produtos. "Isso a criança consegue por
outras fontes. O que não pode é ficar comendo essa quantidade de sódio e
açúcar e quase nenhuma fibra. Isso é o que chamamos de "isopor food", cuja
única função é aumentar as taxas de obesidade infantil."
A nutricionista Madalena Vallinoti afirma que muitas vezes os pais utilizam
o cereal como alternativa para que a criança consuma leite. "Os pais devem
evitar o consumo exagerado desses cereais, mas também não podem proibi-lo
caso a criança goste do produto. Deve haver moderação."
De acordo com o pediatra e professor da Faculdade de Medicina da USP, Mário
Cícero Falcão, o brasileiro consome muito açúcar e os pais educam a criança
a gostar do alimento muito doce. "O cereal que a criança mais gosta é aquele
com mais açúcar. É a conjunção do paladar brasileiro com a indústria",
afirma Falcão.
Na opinião do pediatra, os brindes distribuídos com os cereais impulsionam o
consumo. "Os brindes são uma grande arma antiética. Tem sempre o alimento
processado, com valor biológico inferior e pouco nutriente acompanhado do
brinde. Por que não vender uma maçã com o personagem da moda?"

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