Publicação: 18/01/2010 08:10 Atualização: 18/01/2010 17:27
Roberta e Anderson acompanham Kauã, que nasceu com 29 semanas e sem a função pulmonar completa |
No Distrito Federal, apesar de a quantidade de nascidos vivos ter diminuído entre 2000 e 2008, o número de bebês que vieram ao mundo antes da 39ª semana de gestação não aumentou. No início da década passada, em 2000, 47.251 mães deram à luz a seus herdeiros em hospitais do DF. Delas, 3.204 tiveram seus filhos antes do tempo. Passados oito anos, em 2008, nasceram 4.097 crianças a menos nos hospitais distritais (43.154 bebês, ao todo), mas o número de herdeiros prematuros aumentou, superando em 149 crianças a quantidade registrada em 2000 — foram registrados 3.353 nascimentos prematuros. Um crescimento de prematuridade de 4,65%.
As causas conhecidas para os nascimentos prematuros são desnutrição materna, reduzida frequência ou ausência de pré-natal, falta de planejamento familiar, trabalho braçal extenuante, maior prevalência de doenças genito-urinárias, tabagismo, uso de drogas ilícitas, doenças como hipertensão específica da gravidez ou crônica e cirurgia cesariana, que apesar de ser considerada uma intervenção útil, no Brasil, de acordo com especialistas, é usada de forma indiscriminada e sem indicações médicas.
Pesquisa
O estilo de vida da sociedade moderna também pode estar relacionado à prematuridade dos bebês. "Os nascimentos prematuros têm se tornado uma tendência mundial. Mães que tiveram o primeiro bebê prematuro têm grandes chances de repetir com o segundo filho, mas os hábitos diários influenciam muito", acredita a neonatologista de Centros Obstétricos, Unidades de Neonatologia e Terapia Intensiva Pediátrica da Secretaria de Saúde, Cristina Rolim. Para analisar os fatores que envolvem esse aumento, professores das universidades de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto e da Federal de São Luís (MA) iniciaram no último dia 1º uma pesquisa que pretende ouvir durante todo o ano 14 mil mães das duas cidades, distintas economicamente.
Lara Barella, 6 anos, ao lado da mãe, Taís, tem problemas de saúde que os médicos atribuem à prematuridade |
A iniciativa deve listar outros motivos que levam as mães a terem os bebês antecipadamente. Segundo a professora da Faculdade de Medicina do Departamento de Puericultura e Pediatria da USP de Ribeirão Preto Heloísa Bettiol, o conhecimento desses motivos pode ajudar a diminuir a quantidade de nascimentos precoces. "A prematuridade aumentou em todo o mundo. Em estudos anteriores, uma das razões desse crescimento era a cirurgia cesariana eletiva, responsável por cerca de 40% dos partos pré-termos. Essa intervenção médica acontecia antes do tempo normal de gestação. Outras razões, como depressão podem causar essa prematuridade. Temos que conhecer esses motivos, pois a partir do momento que as causas forem conhecidas, poderemos combatê-las", explica a professora, que escolheu dois estados distintos devido às grandes diferenças sociais entre eles, um mais pobre e outro mais bem estruturado.
Paciência
As mães de bebês prematuros precisam de paciência e força para aguentar a rotina de visitas aos hospitais após o parto. Apesar de poderem conhecer seus pequenos antes das 39 ou 40 semanas de gestação, elas têm que aguardar um pouco mais para levá-los para casa. A maioria dos nascidos prematuros precisa passar dias ou até meses nos hospitais para concluir a formação dos órgãos e se adaptar ao novo mundo. Esses bebês, além de mais sensíveis a luz e ruídos, são mais vulneráveis a problemas de saúde. Mãe de primeira viagem, Roberta Kelles da Silva, 30, sabe bem como é voltar para casa sem poder levar o herdeiro nos braços. Kauã da Silva Xavier chegou há dois meses, mas estava previsto para vir por parto cesariano no último 12.
Roberta havia escolhido o método por medo de sofrer durante o parto normal. Devido a uma perda do líquido amniótico – fluido que envolve o embrião – da mãe, Kauã teve de nascer mais cedo e até chegou em uma data histórica, 15 de novembro, dia da Proclamação da República. Com apenas 29 semanas, pesando 1.090kg e medindo 35cm, Kauã chegou. E com ele, vieram os problemas de saúde.
O pulmão de Kauã não havia acabado de se formar e, por isso, ele não conseguia respirar sozinho. Também não tinha forças para sugar o leite e teve que ser alimentado com sonda e seringa. Dois dias depois, Roberta recebeu alta e começou o tormento de ter que conviver com a condição de voltar para casa sem o recém-nascido. O vazio no quarto e a vontade de acariciar o bebê fazem com que os pais passem até 12 horas no hospital. De férias do trabalho de auxiliar de informática Anderson de Oliveira Xavier, 32, acompanha a esposa, auxiliar de limpeza, diariamente à Unidade de Terapia Intensiva neonatal da maternidade do Hospital Anchieta, em Taguatinga, cidade onde moram. Passados dois meses, Kauã ainda não tem previsão de receber alta do hospital.
A menina Lara Barella, 6 anos, carrega algumas sequelas que seus pediatras relacionam ao nascimento prematuro. Ela sofre com alergias, refluxos e problemas respiratórios, que são vencidos com a natação, praticada há três anos. Filha da professora de história Taís Barella, a menina nasceu com 33 semanas, pesava 2.170kg e media 42cm. Mesmo assim, teve de ficar internada até se recuperar.
Fora do tempo
O bebê é caracterizado precoce pela imaturidade do seu organismo, o que o torna mais sensível. Esses recém-nascidos têm idade gestacional menor ou igual a 30 semanas e apresentam problemas de saúde com mais frequência, sobretudo os menores que 27 semanas. Geralmente eles têm pouco peso, são menores, têm pele mais fina, músculos fracos e atividade física reduzida.
Por isso, uma criança prematura merece cuidados redobrados, uma vez que não teve a oportunidade de completar o processo de maturação biológica dentro do útero da mãe.
Alerta
A Organização Mundial da Saúde considera preocupante o aumento no número de nascimentos prematuros. Segundo a OMS, a quantia chega a 130 milhões por ano em todo o mundo. E, se nascem em países pobres, as chances de sobrevivência dessas crianças que vêm ao mundo com menos de 2kg e medem pouco mais de 30cm são ainda menores. A representante da OMS no Brasil está fora do país e não pôde dar entrevista.
Palavra de especialista
Nascimento precoce virou epidemia
"O nascimento pré-termo – com menos de 37 semanas de gestação – está associado a doenças e mortalidade significativas no início da vida, e também em longo prazo. É uma condição que está aumentando no mundo todo, trazendo custos pessoais e sociais para as famílias e as nações. O parto prematuro pode ser espontâneo ou medicamente induzido, e no Brasil tem sido associado à verdadeira epidemia de cesarianas sem razão médica aparente que acontece no país. As demais causas conhecidas de prematuridade – infecções, outras doenças maternas, más condições de vida e de alimentação da mãe, falta de assistência médica, doenças do feto, entre outras – explicam apenas um terço dos partos prematuros. Assim, há necessidade de estudos populacionais que investiguem o efeito de novos fatores de risco, como estresse físico e emocional, mecanismos inflamatórios e endocrinológicos, integrados às causas já conhecidas. Estudos nesse sentido estão sendo iniciados em Ribeirão Preto, SP, e São Luís, MA, com mulheres que derem à luz nessas cidades em 2010."
Heloísa Bettiol é pediatra e professora doutora assistente do Departamento de Puericultura e Pediatria da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto pela Universidade de São Paulo
Oie estou gravida de 28 semanas. Meu maior medo é q minha filha nasça fora do tempo previsto, Mora em GO e os Hosétais conveniados a empresa q trabalho é so no DF, por conta disso tava pensando em uma cesariana. O q vcs me dizem?
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