segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Mais bebês prematuros no DF. Aumento foi de 4,65%


Naira Trindade

Publicação: 18/01/2010 08:10 Atualização: 18/01/2010 17:27

Roberta e Anderson acompanham Kauã, que nasceu com 29 semanas e sem a função pulmonar completa - (Edilson Rodrigues/CB/D.A Press )

Roberta e Anderson acompanham Kauã, que nasceu com 29 semanas e sem a função pulmonar completa
O número de mães brasilienses que conhecem seus filhos antes de completar os nove meses de gestação aumentou nos últimos oito anos no Distrito Federal. Segundo dados do Ministério da Saúde, mais bebês estão nascendo antes de concluir o período de formação dos órgãos. A prematuridade, conforme alertam especialistas, deixa o recém-nascido mais vulnerável a problemas de saúde, além de aumentar os riscos de contágios de doenças que os acompanham não só na infância, mas por toda a vida. A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que bebês que vêm ao mundo precocemente têm menos chances de sobrevivência. Médicos aconselham as mães a optarem pelo parto normal e consideram a cirurgia cesariana uma das principais causas de nascimentos prematuros no país.

No Distrito Federal, apesar de a quantidade de nascidos vivos ter diminuído entre 2000 e 2008, o número de bebês que vieram ao mundo antes da 39ª semana de gestação não aumentou. No início da década passada, em 2000, 47.251 mães deram à luz a seus herdeiros em hospitais do DF. Delas, 3.204 tiveram seus filhos antes do tempo. Passados oito anos, em 2008, nasceram 4.097 crianças a menos nos hospitais distritais (43.154 bebês, ao todo), mas o número de herdeiros prematuros aumentou, superando em 149 crianças a quantidade registrada em 2000 — foram registrados 3.353 nascimentos prematuros. Um crescimento de prematuridade de 4,65%.

As causas conhecidas para os nascimentos prematuros são desnutrição materna, reduzida frequência ou ausência de pré-natal, falta de planejamento familiar, trabalho braçal extenuante, maior prevalência de doenças genito-urinárias, tabagismo, uso de drogas ilícitas, doenças como hipertensão específica da gravidez ou crônica e cirurgia cesariana, que apesar de ser considerada uma intervenção útil, no Brasil, de acordo com especialistas, é usada de forma indiscriminada e sem indicações médicas.

Pesquisa

O estilo de vida da sociedade moderna também pode estar relacionado à prematuridade dos bebês. "Os nascimentos prematuros têm se tornado uma tendência mundial. Mães que tiveram o primeiro bebê prematuro têm grandes chances de repetir com o segundo filho, mas os hábitos diários influenciam muito", acredita a neonatologista de Centros Obstétricos, Unidades de Neonatologia e Terapia Intensiva Pediátrica da Secretaria de Saúde, Cristina Rolim. Para analisar os fatores que envolvem esse aumento, professores das universidades de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto e da Federal de São Luís (MA) iniciaram no último dia 1º uma pesquisa que pretende ouvir durante todo o ano 14 mil mães das duas cidades, distintas economicamente.
Lara Barella, 6 anos, ao lado da mãe, Taís, tem problemas de saúde que os médicos atribuem à prematuridade - (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

Lara Barella, 6 anos, ao lado da mãe, Taís, tem problemas de saúde que os médicos atribuem à prematuridade

A iniciativa deve listar outros motivos que levam as mães a terem os bebês antecipadamente. Segundo a professora da Faculdade de Medicina do Departamento de Puericultura e Pediatria da USP de Ribeirão Preto Heloísa Bettiol, o conhecimento desses motivos pode ajudar a diminuir a quantidade de nascimentos precoces. "A prematuridade aumentou em todo o mundo. Em estudos anteriores, uma das razões desse crescimento era a cirurgia cesariana eletiva, responsável por cerca de 40% dos partos pré-termos. Essa intervenção médica acontecia antes do tempo normal de gestação. Outras razões, como depressão podem causar essa prematuridade. Temos que conhecer esses motivos, pois a partir do momento que as causas forem conhecidas, poderemos combatê-las", explica a professora, que escolheu dois estados distintos devido às grandes diferenças sociais entre eles, um mais pobre e outro mais bem estruturado.

Paciência

As mães de bebês prematuros precisam de paciência e força para aguentar a rotina de visitas aos hospitais após o parto. Apesar de poderem conhecer seus pequenos antes das 39 ou 40 semanas de gestação, elas têm que aguardar um pouco mais para levá-los para casa. A maioria dos nascidos prematuros precisa passar dias ou até meses nos hospitais para concluir a formação dos órgãos e se adaptar ao novo mundo. Esses bebês, além de mais sensíveis a luz e ruídos, são mais vulneráveis a problemas de saúde. Mãe de primeira viagem, Roberta Kelles da Silva, 30, sabe bem como é voltar para casa sem poder levar o herdeiro nos braços. Kauã da Silva Xavier chegou há dois meses, mas estava previsto para vir por parto cesariano no último 12.

Roberta havia escolhido o método por medo de sofrer durante o parto normal. Devido a uma perda do líquido amniótico – fluido que envolve o embrião – da mãe, Kauã teve de nascer mais cedo e até chegou em uma data histórica, 15 de novembro, dia da Proclamação da República. Com apenas 29 semanas, pesando 1.090kg e medindo 35cm, Kauã chegou. E com ele, vieram os problemas de saúde.

O pulmão de Kauã não havia acabado de se formar e, por isso, ele não conseguia respirar sozinho. Também não tinha forças para sugar o leite e teve que ser alimentado com sonda e seringa. Dois dias depois, Roberta recebeu alta e começou o tormento de ter que conviver com a condição de voltar para casa sem o recém-nascido. O vazio no quarto e a vontade de acariciar o bebê fazem com que os pais passem até 12 horas no hospital. De férias do trabalho de auxiliar de informática Anderson de Oliveira Xavier, 32, acompanha a esposa, auxiliar de limpeza, diariamente à Unidade de Terapia Intensiva neonatal da maternidade do Hospital Anchieta, em Taguatinga, cidade onde moram. Passados dois meses, Kauã ainda não tem previsão de receber alta do hospital.

A menina Lara Barella, 6 anos, carrega algumas sequelas que seus pediatras relacionam ao nascimento prematuro. Ela sofre com alergias, refluxos e problemas respiratórios, que são vencidos com a natação, praticada há três anos. Filha da professora de história Taís Barella, a menina nasceu com 33 semanas, pesava 2.170kg e media 42cm. Mesmo assim, teve de ficar internada até se recuperar.

Fora do tempo

O bebê é caracterizado precoce pela imaturidade do seu organismo, o que o torna mais sensível. Esses recém-nascidos têm idade gestacional menor ou igual a 30 semanas e apresentam problemas de saúde com mais frequência, sobretudo os menores que 27 semanas. Geralmente eles têm pouco peso, são menores, têm pele mais fina, músculos fracos e atividade física reduzida.
Por isso, uma criança prematura merece cuidados redobrados, uma vez que não teve a oportunidade de completar o processo de maturação biológica dentro do útero da mãe.

Alerta

A Organização Mundial da Saúde considera preocupante o aumento no número de nascimentos prematuros. Segundo a OMS, a quantia chega a 130 milhões por ano em todo o mundo. E, se nascem em países pobres, as chances de sobrevivência dessas crianças que vêm ao mundo com menos de 2kg e medem pouco mais de 30cm são ainda menores. A representante da OMS no Brasil está fora do país e não pôde dar entrevista.


Palavra de especialista
Nascimento precoce virou epidemia


"O nascimento pré-termo – com menos de 37 semanas de gestação – está associado a doenças e mortalidade significativas no início da vida, e também em longo prazo. É uma condição que está aumentando no mundo todo, trazendo custos pessoais e sociais para as famílias e as nações. O parto prematuro pode ser espontâneo ou medicamente induzido, e no Brasil tem sido associado à verdadeira epidemia de cesarianas sem razão médica aparente que acontece no país. As demais causas conhecidas de prematuridade – infecções, outras doenças maternas, más condições de vida e de alimentação da mãe, falta de assistência médica, doenças do feto, entre outras – explicam apenas um terço dos partos prematuros. Assim, há necessidade de estudos populacionais que investiguem o efeito de novos fatores de risco, como estresse físico e emocional, mecanismos inflamatórios e endocrinológicos, integrados às causas já conhecidas. Estudos nesse sentido estão sendo iniciados em Ribeirão Preto, SP, e São Luís, MA, com mulheres que derem à luz nessas cidades em 2010."

Heloísa Bettiol é pediatra e professora doutora assistente do Departamento de Puericultura e Pediatria da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto pela Universidade de São Paulo
http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia182/2010/01/18/cidades,i=167201/MAIS+BEBES+PREMATUROS+NO+DF+AUMENTO+FOI+DE+4+65.shtml

Um comentário:

  1. Oie estou gravida de 28 semanas. Meu maior medo é q minha filha nasça fora do tempo previsto, Mora em GO e os Hosétais conveniados a empresa q trabalho é so no DF, por conta disso tava pensando em uma cesariana. O q vcs me dizem?

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